quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Compreensão e Louvor.

Várias linhas seriam concebidas com o que presenciei em quatro dias de acampamento. Contudo vou me atentar a somente algumas delas. Não quero jamais desmerecer meus melhores abraços, os amigos antigos e os que fiz no tempo em que estive acampada, mas nessas linhas vou priorizar o silêncio, um outro tipo de abraço.
Desorganização. O emaranhado de fios na cabeça sobre o que a de ser e de fazer. Os fios se enrolam nos dedos, grudam em minhas mãos sujas e parecem ser tão tortos. As cores não são boas, não combinam. Quem há de fazer um bom tecer com isso? É com essa bagagem que vou. Hora tento fugir de mim, hora permaneço quietinha pedindo o descanso, mas mesmo quietinha ainda fujo.
                Levo comigo também alguns lembretes. Um deles diz que quem começou a boa obra em mim a de completar. Quem tem olhos clínicos é quem sabe que o que tenho recebido vai resultar em algo bom, não pelas minhas habilidades para que eu me vanglorie, mas mediante a fé que é dom de Deus. Em meio ao meu desequilíbrio, desgaste e calma os fios vão sendo realinhados.
                O comum após o transtorno é o correr atrás de outros problemas, ou o tédio. Acontece que eu tive um momento intermediário, o de contemplação. O período para acampar não foi um retirar-me da rotina para construir os desenhos, eles já estavam lá. Foi um convite para desfrutar o momento que eu não percebi, o tempo de suspiro com o Senhor da obra. Foi o instante de cair em si e perceber que embora a identidade seja um processo constante a afirmação sobre quem sou ecoa. É nesse soar que eu não fujo de mim, pois quem realmente sou vem do meu Senhor.
                Ganhei um extenso minuto de silêncio, descanso. Parei a fim de perceber que o que antes me importunava estava ali feito e assinado. Ligar pontos, um a um, talvez tempo seja necessário, mas se tiver-los ligados ainda assim o tempo é necessário. Nem sempre é uma questão de organizar-se, mas de exercitar paz no que foi recebido. Trata-se do minuto após a luta, chamo de compreensão e louvor, o abraço silencioso.




*Acampamento de Carnaval, Detox - Igreja Presbiteriana de Anápolis - 9 à 12 de Fevereiro de 2013

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Gabi entrevistando Silas Malafaia, O Esquivador.

Nem rola ler o texto sem ver a entrevistahttp://www.youtube.com/watch?v=n7qpe4rZ3iU



Quem se delicia com boas discussões teve uma excelente oportunidade para irritar-se com a Gabi de frente ao Silas Malafaia. Antes de mais nada já digo logo que a irritação precede o teor ou a solidez dos argumentos de Malafaia, pois ela vem junto a sua incapacidade de ser assertivo e de ouvir. É cansativo ver o tanto que ele interrompe as perguntas e comentários da Gabi. Inclusive gostei de ver a perfomance da jornalista, além de ter sido firme não é todo mundo que tem tamanha paciência. Talvez você pense, ela se irritou muito, particularmente eu iria preferir parar tudo por tamanha impaciência que tenho.
Bobo o Malafaia não é, e como é de seu feitio já se prontificou em defender-se dos julgamentos de quem tem acompanhado os artigos da Forbes e afins. Apesar do seu claro aproveitamento de tempo em rede nacional venhamos e convenhamos que tal atitude é algo muito compreensível pra quem é caluniado, embora seja no mínimo cômico falar de calúnia se tratando de alguém que anda com tanta pompa sendo um pastor cristão evangélico.
O segundo ponto da discussão foi a prosperidade. Quem conhece os discursos do Silas Malafaia e da Teologia da Prosperidade sabe que a associação da obediência ao Senhor como benção não é bem o foco de suas pregações - https://www.youtube.com/watch?v=-I0OE3409-E . Contudo o pico de sua fala foi a “lei da recompensa” seguidos da minha curta e quase silenciosa reação, putz! Trata-se de algo como fazer por merecer. Lei da recompensa? É sério isso? Só para lembrar, estamos falando de um evangelho encontrado nos 66 livros da Bíblia protestante. Jesus nos convoca a espalhar as boas novas e advinha do que elas são permeadas? Perdão e graça. Caro colega, já disse o Ponde em uma palestra sobre ódio, se é perdão é por não merecer, pois se merecesse seria justiça.
Antes de explorar mais sobre a lei da recompensa, vamos falar do conceito que ele dá sobre prosperidade. Segundo ele é bem estar e viver bem, só que não, né, minha gente? Vejamos, o justo será bem sucedido em tudo segundo Salmos 1 citado por ele, mas é em Salmos que encontramos o “capítulo mais triste” da Bíblia de alguém descrevendo profunda tristeza  que o acompanha  por muito tempo– Salmos 88. E, aí? Como é que fica? Simples. O prosperar bíblico não é estar de bem com a vida, mas é ter Cristo. Veja os seguintes versículos que Paulo expressa a tamanha riqueza que é ter Cristo. Vale ler o capítulo inteiro.

“Mas o que para mim era lucro, passei a considerar perda, por causa de Cristo.
Mais do que isso, considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por cuja causa perdi todas as coisas. Eu as considero como esterco para poder ganhar a Cristo “
Filipenses 3:7-8

Rapidinho, só uma perguntinha, você acha que alguém daria o dízimo por 10, 20, 30 anos sem ganhar nenhum benefício? Em um país como o Brasil onde sempre tem um claro corrupto sendo reeleito o cidadão me vem com uma pergunta dessas?”
É risível para não dizer lamentável ver como Silas Malafaia usa um texto de Filipenses para justificar a corrida pelo “prêmio”. Olha a sequencia de Filipenses.

“Quero conhecer a Cristo, ao poder da sua ressurreição e à participação em seus sofrimentos, tornando-me como ele em sua morte
para, de alguma forma, alcançar a ressurreição dentre os mortos.
Não que eu já tenha obtido tudo isso ou tenha sido aperfeiçoado, mas prossigo para alcançá-lo, pois para isso também fui alcançado por Cristo Jesus.
Irmãos, não penso que eu mesmo já o tenha alcançado, mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante,
prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus. “
Filipenses 3:10-14

Precisa mesmo dizer que o prêmio não é nada relacionado com o sucesso e afins desse mundo? Uma dica, se alguém disser que vai dar tudo o que tem para você tirar o filho dela das drogas e você fizer isso, não precisa aceitar tudo que é dela não. Essa fica só para pensar, certo?
Não vou entrar no quesito da justiça divina neste texto, mas vamos pensar um pouco no perdão fazendo uma rápida retrospectiva. Deus cria o mundo e o homem; dá uma ordem ao homem sob pena de morte; o homem desacata a ordem; adivinha o que vem aqui? Contudo há uma promessa de vida eterna e de perdão dos pecados que não é baseada em obras, mas em graça.

“Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus;
não por obras, para que ninguém se glorie. “
Efésios 2:8-9


Sem contar que é muita presunção de alguém que conhece as Escrituras achar que pode barganhar com Deus com um coração bonzinho, tipo Papai Noé, sabe? A Bíblia afirma sim, em Hebreus, que Deus não é injusto para esquecer de nossas boas obras, mas o mesmo texto afirma que a nossa segurança não é em nós, mas na promessa que é firme e baseada no próprio Deus. O que quero dizer é que a promessa de salvação não se cumpre através do nosso comportamento, mas se firma na palavra de Deus que é imutável. De fato uma vida de obediência pode trazer bênçãos, mas isso é por misericórdia e vontade de Deus, e não uma lei de recompensa.
Avançando um pouco no assunto vamos ao momento do homossexualismo ou homossexualidade. Já viu a maneira que ele fala sobre isso? Gabi não está errada quando critica a tamanha “energia” de Silas ao falar sobre. E como ele responde? Com uma esquiva falando sobre filmes e a suposta influência deles argumentando algo como “cada um que interprete o que quer”. Detalhe, filmes são filmes, e o Silas é um formador de opinião buscando mais seguidores. Advinha quem tem maior influência ideológica? Biblicamente falando se a forma dele de comunicar prejudica seus “irmãos” dando um entender diferente do que realmente se quer dizer ele deve mudar sim. Isso não é só biblicamente pensando, é uma questão de comunicar-se bem em qualquer profissão.

Não se tornem motivo de tropeço, nem para judeus, nem para gregos, nem para a igreja de Deus.
1 Coríntios 10:32-33

Não estamos falando nesse versículo de agradar a todos se esquecendo das leis de Deus, mas de ter cuidado com o nosso comportamento.
Algo interessante sobre o Silas Malafaia é o tanto que ele defende o direito de se expressar e se posicionar enquanto cidadão. Repare que tudo que ele fala existe uma ênfase grande em justificar suas crenças com sociologia, filosofia e ciência. Cristãos são alertados na Bíblia a estarem preparados para darem razão de sua fé, contudo não somos alertados a pregar a razão. Parece-me que tal postura exacerbada do Pr. Silas Malafaia é a resposta mais fácil, é a fuga, uma tentativa de parecer mais coerente para o mundo. É aquela linha pragmática de vamos no argumento cético, pois ele é mais aceito. Sou a favor de bons pastores que sabem fazer pontes e conversar sobre o evangelho em todas as esferas desde que eles mantenham Cristo no centro de suas convicções e deixando claro que Jesus Cristo é a grande motivação. Sei que muita gente vai discordar, mas creio que é algo bom para pensar.
Silas Malafaia defende militantemente e com certa dose de razão seu direito de expressar a própria fé. Estando de frente com a Gabi, sem de forma nenhuma subestima - lá, é fácil. Quero ver Silas de frente com um bom e erudito pastor, pois assim ele iria ter que defender sua fé como algo fora das Escrituras Sagradas. É nessas horas que pessoas de diferentes crenças se unem em uma irritação, pois o Silas Malafaia provou não saber ouvir e não saber pensar logicamente nem dentro de sua própria religião, digo a evangélica e não a que ele inventou.  Não vejo melhor forma de terminar do que com a seguinte frase da Gabi dita no fim do programa.
"Que o meu (Deus), que eu não sei se é o mesmo seu, te perdoe."