domingo, 26 de maio de 2013

Só sei dos meus bombons | Posso Contar-lhe | 2 de X

                Antes da introdução

                A vida é bela não é? Um sorriso refletido na superfície lisa de um bombom e você não o vê, mas eu sim. Ah, tédio! Fico nessa de lá e cá e de cá mais pra cá, nada muda. O bombom vai perdendo o seu gosto, você não acha? Há de se procurar bombons mais refinados. Deixe eu contar mais sobre lá.
                Do lado de lá a vista é bonita, é sim. Estou bem estabilizada, veja. Quantos sorrisos, roupas elegantes, amigos e a vida segue. Não estou inventando, é fato. Muitos teriam inveja e não desconfiança. Que bombons não trazem a felicidade todos sabem, não seja ridículo, não subestime a minha inteligência a tal ponto. E sim, eu sou magra de ruim. Mas continuando, não jogue pra cima de mim esse discursinho velho. O fato é, o que traz a felicidade? Diminuir o valor do meu chocolate certamente não, na verdade talvez sim, cada um com o seu conceito, mas vamos mais pra cá.
                Sabe o que é? Tenho vontade de viver um pouquinho mais. Sabe qual das duas formas de Schonnpenhauer que o desejo resolveu me humilhar? Sinceramente pouco me importa, mas ele humilhou cheio de ceninhas. Todo dia sou eu, todo dia é um Carpe Diem, e daí? É no lado de cá que eu termino. Olhando pra mim e vendo mãos vazias.
Viver intensamente? Viver intensamente o que? Só se vive o que é vida. E o que é vida se há morte? Deve estar aqui em algum lugar escondido, digo a vida, pois a morte está em qualquer lugar. Talvez entre os meus papéis e anotações. Nas gavetas? Onde foi que eu parei e a perdi? Eu já a tive ou fingi correr atrás de algo?
Ventania venta lá fora. Foi minha companheira constrangedora, fingi não a conhecer, mas no final é ela que sopra minhas anotações e cabelos. Tem vida em algum lugar. Sabe aquele negócio de enquanto você estiver se perguntando se você está louco é por não estar? É mais ou menos isso, enquanto eu me perguntar onde está a senhorita existência talvez ela esteja. Pouco importa, mal disfarça, mas sei onde estão meus bombons.

domingo, 19 de maio de 2013

Introdução | Posso Contar-lhe | 1 de X

                Edna. Negra, cabelos negros, enrolados, beirando o crespo. Edna conheceu um homem, por favor, não misture suas necessidades e afetos aos de Edna, poupe-nos. Homem, imaginário coletivo: barba, cabelos longos, mas de fato, ocorrência histórica, na vida de Edna.
                O Homem desperta, mais que qualquer outro, mas o que? Atenção. Atenção existencial, existência atenta! Alerta, sempre alerta! O que ele vai falar?
                Coletivo imaginário: o homem fala com uma voz que voa, tem um olhar de paisagem e um sorriso comercial. Mexe a cabeça repentinamente como um péssimo ator contrafazendo entusiasmo, convencendo figurantes sorteados com um discurso romântico, a vida é bela e existe um pote de ouro no final do arco-íris.
                O fato, o que ele vai falar?

terça-feira, 14 de maio de 2013

O Dia

                 Meus teimosos pés vão deslizando tão teimosos quanto às pernas e o resto todo. Na verdade já não é bem o resto todo, afinal como saberia eu que os pés deslizam se todo o resto fosse transviado?
                É pesado, na verdade leve, mas ainda vivo escolhendo o mais pesado. Sinto-me escorregadio, como se a qualquer hora fosse escapar. Escapar de onde? Do caminho.
                A vista embaça, não me vejo, a voz embaça, não me ouço. Cada grão de areia se perde no outro e o pés continuam a deslizas. Olho para o lado e vejo o mar. Vai me afogar. Será? Grito, um grito que não sai da boca, mas martela o peito. Não sei pedir socorro, não sei socorrer, outrora nem sabia que precisava de socorro.
                Se o mar não vem me sinto peixe fora d’água, no entanto não sou peixe, mas ainda me sinto deslocado, é que ainda sou teimoso, mas não todo. Um dia dá-se o jeito.