segunda-feira, 15 de julho de 2013

Um Inadequado | Posso Contar-lhe | 4 de X

Entrei numa cidadezinha a fim de me alimentar e comprar mais mantimentos para a viagem. Enquanto eu comprava um caldo de feijão preto com ervas amargas no coreto da praça tinha um senhor alto e forte. A figura me chamou muita atenção e acabei perguntando para quem me vendera o caldo quem era o tal senhor tão diferente dos outros e que beirava o inadequado.
— Quem é aquele senhor no coreto da praça?
—O tão diferente dos outros que beira o inadequado?
Pelo visto eu não estava com a percepção defasada, mas o ar de desdém do vendedor de cabelos oleosos e rosto sujo de carvão me pareceu ressoar a fama do Homem Inadequado.
—Sim.
— Metido a bom homem acha que pode nos dizer o que fazer ou não. Fanfarrão.
O Vendedor logo foi interrompido por um senhor ao lado de aparência muito mais acolhedora. Barba bem aparada e um óculos redondo. Tinha acabado de sentar ao meu lado e bebia algo que tinha trago com si.
—Deixes de ser faccioso, bem sabes a razão de não teres um fio se quer de afeição por ele, és um torpe, ages como se lhe tivesse feito algum mal.
—Fan-far-rão! Ele não manda em mim. – fez birra o vendedor.
—Que seja! Admitas subserviência à sua incapacidade. Menina, o tal homem inadequado é exatamente o que estas a ver, impróprio, não parece ser daqui nem de lugar algum. Mas então, diga-me o motivo de nossa cidade receber tão bela moça.
—Motivo procuro eu. Sou viajante e parei para comer, é o que tenho a dizer.
— Viajante? Não percas tempo, sigas atrás do Homem Inadequado. Ele é um bom companheiro de viagens e irá proteger-te. Se fores das minhas gostarás dele. Ele é o professor do Rei, é por isso que se desagradam dele. O rei é íntegro de mensagem íntegra, enquanto esse povo... Enfim, arruma-te de pressa.
—Mas aquele homem é...
—Menina, se tu soubesses em que lugar estás não terias parado para comer. Corra antes que o homem deixe está terra, eu te olharei daqui caso algo te aconteça.
Apressei-me em ir sem olhar para os lados, se de fato eu não deveria parar a fim de comer já tendo parado preferia nem pensar nos motivos. As pedras eram tão irregulares que faziam torcer o pé o tempo todo. Quando estava bem perto fui diminuindo a velocidade para pelo menos aparentar menina direita tão alinhada quanto, vã tentativa, claro. O homem tinha cabelos extremamente bem penteados, eram grisalhos. Roupa impecável, formal, elegantíssima. Sapatos limpos o que era incrível para uma cidade tão suja.
—Oi. -disse eu muito timidamente.
—Huum. –respondeu ele suscintamente.
—É que...
Ele estendeu a mão, como se fosse beijar a minha e me encaminhou para a carroça.

— Vamos antes que fique tarde -disse ele.

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