segunda-feira, 3 de junho de 2013

A Bela Mulher e o Débito | Posso Contar-lhe | 3 de X

Enquanto estou eu a procurar motivos para fitar a tal vida, afinal de contas para que eu ei de esforçar-me a encontrar a dita cuja sem ter motivos? Eis que encontro uma bela mulher.
Padrão grego define a postura da Bela Mulher. Usava um coque, não do tipo Dona Amélia – nada contra a senhora, Dona Amélia, inclusive buscarei os nhoques de melão ao chocolate ainda hoje - o coque era algo funcional para não atrapalhar os movimentos, assim manda o psicológico. A Bela Mulher de cabelos escuros e liso, muito bem vestida de terno, saia e uma charmosa gravata discursava para um grupo de pessoas. Sua voz era firme e agradável, ela poderia ganhar dinheiro só por falar se quisesse. É bem verdade que desconfio das falas de pessoas competentes demais, contudo atraída pelo cansaço e por algum tipo de interesse resolvi parar e ouvir.


Dedica-se tempo e energias em grandes feitos para ter o relevante tatuado no próprio nome. Nome esse que se vai e permanece apenas para quem ficou, mas perde-se o valor enquanto identidade, se é que alguma identidade existe.
Não é a própria identidade efêmera? Dedica-se tempo e energias em grandes feitos para ter o que acredita ser significativo tatuado no cerne do ser, e quando assim feito descobre que não se sabe nem onde está a ponta do nariz.
Tão senhora de mim eu fui, prossegui para então descobrir que o mim era folha ao vento. Instável, não se encontra, preso na cadeia do corpo, solto na das ideias. Solto não é liberdade é paradoxo da escolha, quanto mais opções mais angústia, mais probabilidade de erro, mais energia e tempo.
Se mais energia e tempo, então me dei novamente em sacrilégio. Muitos diriam que isso é falta de força de vontade, mas poucos ousariam dizer isso para mim. Levantar cedo e estar pronta para o trabalho, não qualquer trabalho, mas aquele do qual dedico a maestria do conhecimento, da perspectiva e da atitude. Arquiteta-se todo o planejamento, executa-o e o sucesso é alcançado com louvor. No outro dia acorda-se cedo novamente mantendo a rotina até chegar ao sábado que serve para repor os minutos que faltaram nos outros dias.
Irônico dizer que vou repor algo ao sábado, é que o débito com a vida é tamanho que eu jamais conseguiria quitar. Na verdade eu estaria em débito com a vida, pois todo o meu ganho é perda. Não somente uma perda em si, mas comparada ao grande ganho. O ganho é o conhecer daquele que fala sobre as coisas que permanecem, e ele fala com autoridade, pois sabe o que diz.
Outrora eu, criatura, falava de coisas criadas e para elas vivia, ainda falo delas, mas não somente delas. Falo como quem tem identidade, pois quem a disse primeiro tem a autoridade.


Daí em diante parei de ouvir, mas não por não gostar, mas esse trecho me fitou. Quem teria autoridade para dizer o que o outro é? Só conheço pessoas sem conhecimento de si, alguém que diga o que o outro é e com autoridade no mínimo sabe muito sobre si.

Um comentário:

  1. Uma música:
    Julia Kent — Seul, pendant un instant
    http://www.youtube.com/watch?v=HVQc5-JLBNc

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