Enquanto estou eu a procurar
motivos para fitar a tal vida, afinal de contas para que eu ei de esforçar-me a
encontrar a dita cuja sem ter motivos? Eis que encontro uma bela mulher.
Padrão grego define a postura da
Bela Mulher. Usava um coque, não do tipo Dona Amélia – nada contra a senhora, Dona
Amélia, inclusive buscarei os nhoques de melão ao chocolate ainda hoje - o
coque era algo funcional para não atrapalhar os movimentos, assim manda o
psicológico. A Bela Mulher de cabelos escuros e liso, muito bem vestida de
terno, saia e uma charmosa gravata discursava para um grupo de pessoas. Sua voz
era firme e agradável, ela poderia ganhar dinheiro só por falar se quisesse. É
bem verdade que desconfio das falas de pessoas competentes demais, contudo
atraída pelo cansaço e por algum tipo de interesse resolvi parar e ouvir.
Dedica-se tempo e energias em
grandes feitos para ter o relevante tatuado no próprio nome. Nome esse que se
vai e permanece apenas para quem ficou, mas perde-se o valor enquanto
identidade, se é que alguma identidade existe.
Não é a própria identidade efêmera?
Dedica-se tempo e energias em grandes feitos para ter o que acredita ser
significativo tatuado no cerne do ser, e quando assim feito descobre que não se
sabe nem onde está a ponta do nariz.
Tão senhora de mim eu fui,
prossegui para então descobrir que o mim era folha ao vento. Instável, não se
encontra, preso na cadeia do corpo, solto na das ideias. Solto não é liberdade
é paradoxo da escolha, quanto mais opções mais angústia, mais probabilidade de
erro, mais energia e tempo.
Se mais energia e tempo, então me
dei novamente em sacrilégio. Muitos diriam que isso é falta de força de vontade,
mas poucos ousariam dizer isso para mim. Levantar cedo e estar pronta para o
trabalho, não qualquer trabalho, mas aquele do qual dedico a maestria do
conhecimento, da perspectiva e da atitude. Arquiteta-se todo o planejamento,
executa-o e o sucesso é alcançado com louvor. No outro dia acorda-se cedo
novamente mantendo a rotina até chegar ao sábado que serve para repor os
minutos que faltaram nos outros dias.
Irônico dizer que vou repor algo
ao sábado, é que o débito com a vida é tamanho que eu jamais conseguiria quitar.
Na verdade eu estaria em débito com a vida, pois todo o meu ganho é perda. Não
somente uma perda em si, mas comparada ao grande ganho. O ganho é o conhecer
daquele que fala sobre as coisas que permanecem, e ele fala com autoridade,
pois sabe o que diz.
Outrora eu, criatura, falava de
coisas criadas e para elas vivia, ainda falo delas, mas não somente delas. Falo
como quem tem identidade, pois quem a disse primeiro tem a autoridade.
Daí em diante parei de ouvir, mas
não por não gostar, mas esse trecho me fitou. Quem teria autoridade para dizer
o que o outro é? Só conheço pessoas sem conhecimento de si, alguém que diga o
que o outro é e com autoridade no mínimo sabe muito sobre si.
Uma música:
ResponderExcluirJulia Kent — Seul, pendant un instant
http://www.youtube.com/watch?v=HVQc5-JLBNc